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O porco e o vira-lata

17 de junho de 2010

Luciano Candisani – 14/06/2010

porco-e-cachorro 

© Valeria Forner

Não, essa incrível fotografia não é minha. Eu apenas estava perto da jornalista Valeria Forner quando ela fez a imagem. Momentos antes desse clique, eu e ela viajávamos no banco de trás de uma van junto a um grupo de jornalistas escalados para conhecer a reserva do Patrimônio Natural da Serra do Tomabador, em Cavalcante, Goiás (veja os dos últimos posts). Ao passarmos pela comunidade São Domingos, nossos olhares foram quase simultaneamente atraídos para o quintal de uma casa na beira da estrada de chão. Ali, um porquinho brincava com três ou quatro cachorros como se fosse um deles. Uma cena que fala muito sobre a vida no sertão e a proximidade das pessoas com os bichos, um daqueles momentos típicos do interior do país.

Paramos o carro. Desci rapidamente com uma pesada Nikon D3 pendurada no pescoço e mais flash e outra objetiva no bolso. Valeria, uma profissional do texto, veio atrás. Discreta, ela carregava apenas uma digitalzinha de bolso. “Só preciso de alguns registros” me disse ela. Começamos a trabalhar. A princípio todas as atenções voltadas para o porco que pensava ser um cachorro. Mas ele logo ficou tímido, parou de brincar e a cena se dispersou. Enquanto isso, meu olhar foi se desviando para outras coisas ao redor e, sem paciência para esperar a vontade dos bichos, passei a fotografar outros temas.

Valéria fez o mesmo, mas logo voltou ao que realmente havia motivado a nossa parada. Resultado: ela estava exatamente na posição certa quando o menor dos vira-latas resolveu tirar um cochilo sobre as costas do amigo porco.

Eu fiz algumas boas imagens dos moradores locais. Nenhuma delas, porém, sequer se aproximava da composição que imaginei quando percebi os bichos através da janela do veículo. Essa foto pré-concebida na minha mente, depois vi, foi parar na digitalzinha da Valéria. E não por acaso. Ela teve paciência e seguiu abordando a situação concentrada no objetivo até o momento decisivo. Ou seja, deu todas as chances necessárias à sorte e soube responder rapidamente quando esta apareceu – regras fundamentais para a boa fotografia documental.

Uma hora depois, fui o último a subir no carro. Estava sem a foto e com o calcanhar meio doído pelas duas mordidadas que levei do porco.

http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/porco-vira-lata-244430_comentarios.shtml?8166680&utm_source=newsnational&utm_medium=email&utm_content=20100616

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